quinta-feira, 16 de outubro de 2008

MANUEL BANDEIRA



E agora, José?

A festa acabou,

a luz apagou,

o povo sumiu,

a noite esfriou,

e agora, José?

e agora, Você?

Você que é sem nome,

que zomba dos outros,

Você que faz versos,

que ama, protesta?

e agora, José?


Está sem mulher,

está sem discurso,

está sem carinho,

já não pode beber,

já não pode fumar,

cuspir já não pode,

a noite esfriou,

o dia não veio,

o bonde não veio,

o riso não veio,

não veio a utopia e tudo acabou e tudo fugiu e tudo mofou,

e agora, José?


E agora, José?

sua doce palavra,

seu instante de febre,

sua gula e jejum,

sua biblioteca,

sua lavra de ouro,

seu terno de vidro,

sua incoerência,

seu ódio,

- e agora?


Com a chave na mão quer abrir a porta,

não existe porta;

quer morrer no mar,

mas o mar secou;

quer ir para Minas,

Minas não há mais.

José, e agora?


Se você gritasse,

se você gemesse,

se você tocasse,

a valsa vienense,

se você dormisse,

se você cansasse,
se você morresse....

Mas você não morre,

você é duro, José!


Sozinho no escuro qual bicho-do-mato,

sem teogonia,

sem parede nua para se encostar,

sem cavalo preto que fuja do galope,

você marcha, José!

José, para onde?”

Um comentário:

  1. Esse texto é do Carlos Drumond de Andrade e não de Manuel Bandeira...

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